23 de abr. de 2011

A Sétima Dor de Maria Santíssima...


“Uma mãe, que se acha presente aos sofrimentos e à morte do filho, sente e sofre incontestavelmente todas as suas dores. Mas depois, quando o vê morto e prestes a ser sepultado, oh! Então, o pensamento de deixá-lo, para nunca mais tornar a vê-lo, causa-lhe uma dor que excede todas as outras dores. Eis a sétima e última espada de dor. A Mãe Santíssima vira o Filho morrer na cruz, recebera-O depois de morto, e agora vê-se obrigada a deixá-Lo finalmente no sepulcro, para não mais gozar de sua amável presença.
Compreenderemos melhor esta última dor da Senhora, se subirmos ao Calvário e aí contemplarmos a desolada Mãe, ainda abraçada com o Filho morto... Ah! Filho dileto, tudo perdi, vos perdendo! Ó verdadeiro Filho de Deus, — assim a faz queixar-se Bernardino de Busti com Pseudo-Bernardo — Vós me éreis pai, filho e esposo e vida; agora estou sem pai, sem esposo, sem filho; perdi tudo, numa palavra.
Deste modo expandia a Mãe a sua dor, abraçada ao Filho sem vida. Mas os santos discípulos receavam lhes expirasse de dor a pobre Mãe, e por isso se apressam em tirar-lhe do regaço o Filho sem vida. Fazendo-lhe, pois, respeitosa violência, tiram-no dos braços, o embalsamam com aromas, envolvem-no numa mortalha, preparada de propósito para Ele... Levam o Sagrado Corpo à sepultura. Forma-se o cortejo fúnebre e os discípulos acompanham-no, juntamente com as santas mulheres. Entre as últimas, caminha a Mãe dolorosa, levando também ela o Filho à sepultura. Ter-se-ia a Senhora de boa mente sepultado viva com o Filho, como reza uma sua revelação a Santa Brígida. Mas, esta não sendo a divina vontade, acompanhou resignada o sacrossanto corpo de Jesus ao sepulcro, no qual, como refere Barônio, depositaram também os cravos e a coroa de espinhos. No momento de fechá-lo com a pedra, voltaram-se os discípulos para Maria com as palavras: Eia, Senhora, vai ser fechado o túmulo. Ânimo! Contemplai vosso Filho pela última vez e dai-lhe um derradeiro adeus! Assim, pois, ó dileto Filho, teria então dito talvez a Senhora, assim, pois, não mais te tornarei a ver? Recebe com meu último olhar o último adeus de tua aflita Mãe; recebe meu coração, que deixo contigo no sepulcro! Era-lhe ardente o desejo de sepultar também sua alma com o Filho, observa Vulgato Fulgêncio.
A pobre Virgem assim falou a Santa Brígida: Na sepultura de meu Filho estavam sepultados dois corações!
Finalmente, os discípulos tomaram a pedra e fecharam no túmulo o corpo de Jesus, aquele tesouro que não tem igual nem no céu nem na terra. Intercalemos aqui uma digressão. Maria deixa seu coração sepultado com Jesus, porque lhe é Jesus o único tesouro. ‘Porque onde está o vosso tesouro, aí está também o vosso coração’ (Lc 12, 34). E nós, onde sepultaremos o nosso? Nas criaturas, talvez? No desprezível pó? Por que não em Jesus? Ainda que haja subido ao céu, quis, entretanto, permanecer no meio de nós no Sacramento, justamente para possuir e guardar nossos corações. Voltemos, porém, a Maria. Antes de se afastar do sepulcro, bendisse àquela pedra sagrada, como refere Boaventura Baduário: ‘Ó pedra feliz, que agora encerras Aquele que tive nove meses no seio, eu te bendigo e invejo. Deixo-te guardando este meu Filho que é todo o meu bem, todo o meu amor’. E dirigindo-se ao Pai Eterno, rezou: Meu Pai, a vós encomendo este Filho, que é vosso e meu”
(Fonte: “Glórias de Maria Santíssima” por Santo Afonso Maria de Ligório)

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