22 de jun. de 2011

Um pouco da história da Festa de Corpus Christi


As origens remotas da festa de Corpus Christi encontram-se no desenvolvimento do culto da Eucaristia durante a Idade Média. As disputas doutrinárias entre Pascasio Radbertus († 865) e Ratramno de Corbie († 868), e especialmente entre Berengário de Tours († 1088) e Lanfranco de Pavia († 1089), levaram a um esclarecimento da doutrina da Presença Real de Cristo no Sacramento e, portanto, um culto mais sincero e difuso da Eucaristia.


No século XIII, manifesta-se um movimento mais amplo de devoção eucarística entre as pessoas e também entre os teólogos, com um forte contributo da nova ordem franciscana. O IV Concílio de Latrão (1215), afirmando a doutrina da Igreja com a fórmula da transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo, levou ao desenvolvimento do culto eucarístico. O próprio Concílio prescrevia a obrigação da comunhão pascal anual e da reserva da Eucaristia em um local seguro. E na liturgia dissemina-se a prática de elevar a hóstia e o cálice durante a Missa pelo desejo dos fiéis de ver e de adorar as espécies consagradas.


A solene celebração de Corpus Christi, tal como a conhecemos hoje, é devido à inspiração da religiosa flamenga Santa Juliana de Cornillon (1191-1258). A festa, instituída na diocese de Liège, na Bélgica atual, em 1246 e espalhou-se rapidamente, graças aos esforços do flamengo James Pantaleone de Troyes, mais tarde eleito Papa Urbano IV (1261-1264). Ele incluiu a festa no calendário litúrgico com a bula Transiturus de hoc mundo, 11 de agosto, 1264. No entanto, devido a diferentes eventos, será celebrada em toda a Igreja somente após o Concílio de Viena (1311-1312).


De acordo com a vida de Santa Juliana, o próprio Cristo disse que o principal motivo para querer esta nova festa, era recordar a instituição do Sacramento do seu Corpo e Sangue de maneira particularmente solene, o que não era possível na Quinta-Feira Santa, quando o liturgia é marcada pelo lava-pés e pela Paixão do Senhor. Este festa seria um incentivo de fé e de graça para os cristãos a participar com mais atenção àquilo que vivem nos dias ordinários com menos devoção ou até mesmo com negligência.


A festa foi marcada para quinta-feira após a oitava de Pentecostes, a primeira quinta-feira após o Tempo Pascal, de acordo com o calendário litúrgico do usus antiquior. A festa é tão claramente ligada à Quinta-Feira Santa, e manifesta o seu caráter essencial: "Na festa de Corpus Christi, a Igreja revive o mistério da Quinta-Feira Santa à luz da Ressurreição".

19 de jun. de 2011

Oração à Santíssima Trindade composta pela Beata Elisabete da Trindade


Esta oração foi composta pela Beata Elisabete da Trindade, carmelita descalça, em 21 de novembro de 1904. É sem dúvida uma das mais belas e profundas orações dedicadas à Santíssima Trindade, sendo uma espécie de síntese de sua vida espiritual.

“Ó meu Deus, Trindade que adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente para me estabelecer em Vós, imóvel e pacífica, como se minha alma já estivera na eternidade; que nada me possa perturbar a paz nem arrancar-me de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me transporte mais profundamente em Vosso Mistério!

Pacificai minha alma; fazei dela o Vosso Céu, Vossa morada querida e o lugar de Vosso repouso; que eu não Vos deixe jamais só; mas fique toda inteira Convosco, toda atenta em minha fé, em atitude de adoração e entregue inteiramente a Vossa ação criadora.

Ó meu Cristo amado, crucificado por amor, quanto desejaria ser uma esposa para Vosso coração; quanto desejaria cobrir-Vos de glória, quanto desejaria amar-Vos... Até morrer!... Mas sinto minha impotência e, por isso, peço-Vos revesti-me de Vós mesmo, identificai minha alma com todos os movimentos da Vossa. Submergi-me, penetrai-me, substitui-Vos a mim, a fim de que minha vida não seja senão uma irradiação da Vossa. Vinde a mim como Adorador, como Reparador, como Salvador.

Ó Verbo Eterno, Palavra de meu Deus, quero passar minha vida a escutar-Vos, quero ser inteiramente dócil, para aprender tudo de Vós; e depois, através de todas as noites, de todos os vácuos, de todas as impotências, quero ter sempre os olhos fitos em Vós e ficar sob Vossa grande Luz. Ó meu Astro querido, fascinai-me a fim de que eu não possa mais sair dos Vossos raios.

Ó fogo devorador, Espírito de Amor, vinde a mim para que em mim se opere uma como encarnação do Verbo; que eu seja para Ele uma humanidade de acréscimo na qual Ele renove o seu Mistério.

E Vós, ó Pai, inclinai-Vos sobre vossa pobre criatura, cobri-a com Vossa sombra, vede nela somente o Vosso Bem-Amado no qual pusestes todas as vossas complacências.

Ó meus “Três”, meu Tudo, minha Beatitude, Solidão Infinita, Imensidade em que me perco, eu me entrego a Vós qual uma presa, sepultai-Vos em mim, para que eu me sepulte em Vós, na esperança de ir contemplar em Vossa Luz o abismo de Vossa grandeza.”

18 de jun. de 2011

Santíssima Trindade


Terminado o tempo pascal somos imergidos no tempo cotidiano, chamado de tempo comum, em que a Mãe Igreja nos apresenta a Santíssima Trindade que é Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Permitamos que chegue até nosso coração uma mensagem clara: Deus é amor. E não é outra coisa. Pai, Filho, Espírito Santo – é relação de amor entre eles. E nesse amor vivem na mais perfeita unidade que se possa imaginar. Tanto que são um só Deus.

E, além disso, esse amor se volta para nós. “Em Jesus nos é revelado o amor do Pai e o Espírito Santo nos ajuda a reconhecê-lo com nossa mente e nosso coração”, sempre presente: somos amados por Deus.

O Evangelho de João nos fala: “De tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu único Filho”. Isto é, entregou-se a si mesmo. Entregou-se completamente por nós. Sem medida. Sem condições.

Como é possível que haja alguém que ainda pense que Deus nos persegue para nos castigar, para colocar dificuldades e pedras no nosso caminho, até mesmo para nos condenar? “É preciso repetir muitas vezes essa passagem: De tal modo Deus amou o mundo...” E permitir que chegue dentro de nós esse carinho imenso de Deus e dar-nos conta da incongruência que supõe pensar que Deus possa planejar nossa condenação, ou que possa ter pensado na destruição deste mundo e de muitos de seus filhos. Deus quer que o mundo se salve.

Mas nós nos deixamos salvar? Porque é igualmente verdade o que diz a primeira leitura do livro do Êxodo: somos um povo de cabeça dura que, às vezes, não é capaz de aceitar a mão que Deus nos estende para nos salvar. Voltemos nossos olhos para o alto e reconheçamos que Deus está aí, sempre desejoso de nos dar a mão, de nos ajudar, de nos livrar dos perigos, de nos perdoar (geralmente, é muito difícil perdoarmos a nós próprios e, por isso, nos custa, de igual maneira, aceitar a ajuda de Deus). Levantemos os olhos e percebamos que o Deus do amor e da paz Está conosco. Agradeçamos a Ele a sua presença, a sua bênção e a sua graça, a ponto de oferecer-nos a salvação, por meio de Seu Filho, ao qual somos atraídos pela força de Seu Espírito. É isto que nos fará bem e nos levará a conquistar a felicidade plena.

+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

11 de jun. de 2011

Como uma bela pomba branca...


«Como uma bela pomba branca que sai do meio das águas e vem sacudir as suas asas sobre a terra, o Espírito Santo sai do oceano infinito das perfeições divinas e vem bater asas sobre as almas puras, para verter nelas o bálsamo do amor.

Sem o Espírito Santo, somos semelhantes a uma pedra no caminho. Pegai numa mão uma esponja impregnada de água e na outra, uma pedrinha; apertai-as da mesma forma; nada sairá da pedrinha e da esponja sairá água em abundância. A esponja, é a alma cheia do Espírito Santo, e a pedrinha, é o coração frio e duro onde o Espírito Santo não habita.

É o Espírito Santo que forma os pensamentos no coração dos justos e que gera palavras nas suas bocas. Aqueles que possuem o Espírito Santo não produzem nada de mau; todos os frutos do Espírito Santo são bons… Quando o Espírito Santo está em nós, o coração dilata-se, mergulha no Amor divino.

Dever-se-ia dizer cada manhã: Meu Deus, enviai-me o vosso Espírito, que Ele me revele o que sou e quem sois’.»

Fonte: São João Maria Vianney, o Santo Cura d'Ars.

1 de jun. de 2011

Milagres de Santo Antônio - "O Dote"

Vivia em Nápoles uma viúva que tinha uma filha de grande beleza, mas extremamente pobre, e não podia casá-la por falta de dinheiro para o dote.

Eram pessoas de boa origem, mas não tinham como viver decentemente.

A mãe, oprimida pela pobreza e desejosa de recuperar o prestígio social, determinou prostituir a filha e fez a esta a seguinte proposta infame: “Menina, nada desonra tanto no mundo como a pobreza. De que nos servem nossos títulos de nobreza se nossa indigência nos sujeita ao desprezo da sociedade? Só a tua beleza nos pode livrar. Vai entregar-te aos rapazes ricos que te galanteiam, porque não há outro remédio”.

A pobre moça, que era de bom caráter, ficou estupefata diante do que a desavergonhada mãe lhe dizia.

Começou a invocar Santo Antônio com fé e confiança. Uma tarde, quando entrou no convento de São Lourenço, onde se venera uma imagem milagrosa do Santo, ajoelhou-se e, em lágrimas, suplicou: “Meu bom Santo Antônio, eu de nenhum modo quero perder a pérola da virgindade com ofensa a Deus. É minha desalmada mãe que me arrasta para o caminho da perdição e da desonra. Socorrei-me! Coloco-me sob vossa proteção, ó puríssimo defensor da virtude da castidade”.

Mal acabara de formular essa prece quando o Santo lhe estendeu o braço e lhe entregou um papel, dizendo: “Vai à casa do Sr. X e entrega-lhe este bilhete”. Tratava-se de um rico negociante, muito conhecido na cidade.

O bilhete continha estas palavras: “Dareis à mulher que vos apresentar este papel, para o seu dote, o peso deste mesmo papel em moedas de prata. Saudações. Santo Antônio”.

A jovem, cheia de esperança e reconhecimento, correu a entregar o bilhete de Santo Antônio ao rico negociante. Este se pôs a zombar dela, dizendo: “Só o peso desta folhinha de papel?! Por certo vosso noivo se contenta com bem pouco. Vamos já satisfazê-lo”.

E colocou o papel num dos pratos da balança, pondo no outro uma pequenina moeda de prata, certo de que já pesaria mais do que o papel. Como o outro prato nem se moveu, colocou uma segunda moeda, e mais outra, e mais outra...

Para sua grande confusão, somente quando tinha colocado 400 escudos de prata a balança se equilibrou.

Foi nesse momento que o negociante se recordou de que havia outrora prometido a Santo Antônio dar-lhe 400 escudos de prata, e nunca havia cumprido a promessa. O Santo viera fazer a cobrança daquele modo maravilhoso.

A feliz jovem pode então casar-se honestamente, de acordo com a sua condição social.

Fonte: Vida e milagres de Santo Antônio - Pe. Fernando Tomás de Brito. 3ª. Edição. São Paulo: Artpress, 2007, p.92-94.